Um dia de folga, um dia de sol com temperatura primaveril, uma vontade férrea de ir à descoberta de coisas bonitas, eis a conjugação ideal para partir em mais uma aventura em duas rodas.
Tendo como ponto de partida a cidade de Matosinhos, percorrendo as ciclovias da marginal, das quais já falei aqui avancei no mapa rumo ao norte.
Em Angeiras, a tradicional ciclovia passa a passadiço, partilhado por ciclistas e peões… nada de preocupante, uma vez que, dado estar afastado dos grandes centros urbanos o número de utilizadores é em menor número o que permite a circulação de ambos em perfeita harmonia. Neste dia, talvez por se tratar de um dia de semana quase não me cruzei com utilizadores, o que ainda foi melhor pois permitiu-me abstrair completamente e gozar de toda a calma e beleza envolvente nesta que é igualmente a via de Santiago do Caminho Português da Costa.
O perfil do percurso é praticamente plano à excepção de uma pequena elevação junto à capela de São Paio, uma elevação rochosa que tem de ser vencida por uma escadaria no passadiço… neste caso tive de levar a menina ao colo!
Nas rochas a Sul existem vestígios da aldeia de Castro de São Paio que data da Idade do Ferro.
As redondezas são marcadas pelos campos de cultivo e ausência de habitações junto ao areal o que acentua a força da natureza. Detive-me um pouco mais que o tempo das fotos… o embalo da sonoridade marítima e o sol quente funcionaram como uma âncora.
Passagem pelo Bairro dos pescadores de Vila Chã, barcos e homens em terra mas o trabalho não pára! Arranjam-se as redes, verificam-se motores e neste silêncio laborar irrompem duas mulheres quebrando o silêncio com um bem audível: – O que é que “bais” querer comer Tone?
Gente genuína… com um sorriso no rosto avanço no percurso.
Mais uma paragem “forçada” para admirar os homens do surf e para uma foto…
Este tipo de percurso afastado da via, permite facilitar um bocadinho no uso do capacete… deixei-me andar com a cabeça arejada, para que os pensamentos “andassem livres”, mas não esqueci o boné da NO16CYCLECAPS, marca que já dei a conhecer aqui, para que os mesmos não voassem para longe!!!
Mais um registo naquela que é classificada como a primeira reserva no território português – Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo. “Esta área de costa revela-se particularmente importante na medida em que se apresenta como a única área costeira minimamente preservada entre a Barrinha de Esmoriz e o litoral de Esposende. O litoral sul do concelho de Vila do Conde possui um variado conjunto de valores de ordem biológica e paisagística, sendo de destacar a existência de um interessante e original mosaico de habitats, desde cordões dunares, rochedos, zonas húmidas, bouças e áreas agrícolas, desenvolvendo-se ao longo de uma linha de costa com 8,5 km de extensão.”
Depois de mais uns quantos quilómetros e já com a ponte de Vila do Conde no horizonte consigo avistar este belíssimo exemplar da arquitectura religiosa, rodando as velas, avanço em direcção à estrada nacional 13, dando de fronte com a Igreja Matriz de Azurara.
“Aproveitando a passagem de D. Manuel por estas terras, em 1502, quando este se dirigia a Compostela, o povo de Azurara pediu ao rei permissão para edificar uma nova igreja. A construção da nova matriz, dedicada a Santa Maria a Nova, ter-se-á iniciado nesse mesmo ano e terá terminado em 1522, data de conclusão do espaço da capela-mor. O edifício assemelha-se à Igreja Matriz de Vila do Conde, edificada na mesma época. No primeiro domingo de agosto acolhe a Festa de Nossa Senhora das Neves. Antigamente era conhecida por Romaria dos Anéis porque era nessa altura que os noivos compravam as alianças de casamento.”
Pela movimentada EN13 entro em Vila do Conde, onde à chegada sou logo presenteado com um belo postal da cidade.
O Convento de Santa Clara foi fundado por iniciativa de D. Afonso Sanches, filho bastardo de Dinis I de Portugal, e de sua esposa, D. Teresa Martins. Foi um convento feminino instituído em 1318 e extinto no século XIX. Do antigo conjunto, restam-nos a magnífica igreja em estilo gótico, parte do edifício conventual, reedificada parcialmente no século XVIII e o Aqueduto de Santa Clara. Na igreja encontram-se alguns importantes túmulos: o de Beatriz de Portugal, filha do beato Nuno Álvares Pereira, o dos Condes de Cantanhede e os dos fundadores.
Nas traseiras deste edifício nasce o Aqueduto de Santa Clara que se estende desde Terroso, na Póvoa de Varzim, até ao Mosteiro. Trata-se de um aqueduto em estilo românico, em pedra. Primitivamente possuía 999 arcos, alguns dos quais, nos dias de hoje, se encontram destruídos. Encontra-se classificado como Monumento Nacional desde 1910.
A versão espanhola da revista National Geographic considerou-o o 4.º mais belo aqueduto do mundo.
Vistas junto ao convento.
Guiado pelo burburinho, bem audível lá do alto, desço até ao Mercado Municipal que fervilhava de vida. Os pregões dos vendedores, o regateio dos clientes, os cheiros dos produtos frescos e dos fumados, o vai-vem de gente conferem ao local um ambiente fantástico. Ancorei numa banca para abastecer com alguma fruta.
Depois de uma pausa para comer algo junto da Igreja Matriz, levantei ferros e segui para a marginal ao encontro da Nau Quinhentista.
“A nau portuguesa do século XVI era um navio redondo, de alto bordo, com uma relação de 3:1 entre o comprimento e a largura máxima, três ou quatro cobertas, castelos de popa e de proa, com três e dois pavimentos, respectivamente, cuja arquitectura se integra perfeitamente no casco; arvorava três mastros, o grande e o traquete com pano redondo, e o da mezena com pano latino.
A fim de mostrar a complexidade da organização das viagens, a Nau Quinhentista apresenta os aposentos de alguns dos tripulantes, assim como os próprios elementos da tripulação, através de esculturas humanas: o capitão, o piloto, o escrivão, o capelão, o boticário, o timoneiro, o bombardeiro e o grumete.
Simultaneamente, estão expostos vários instrumentos de navegação, material cartográfico, diferentes tipos de mercadorias, uma botica, procurando elucidar sobre a complexidade e as vicissitudes da vida a bordo.”
Ao dobrar a esquina, aquela parede vegetal chamou-me a atenção e despertou interesse pelo que lá em cima se encontrava!!!
A Capela do Socorro, foi erguida em 1559 por iniciativa de Gaspar Manuel, “piloto-mor da carreira da Índia, China e Japão que custeou as obras“, possivelmente em cumprimento de um voto a Nossa Senhora do Socorro. De pequenas dimensões, é singular pelo seu formato e cobertura, semelhante à de templos orientais.
Morro abaixo sigo na direcção da Póvoa, pelo caminho mais uma paragem para este belíssimo mural que partilho uma das partes.
Na área circundante ao Forte de S. João Baptista inicia-se a a Ciclovia da Marginal Atlântica, que percorre a marginal entre a foz do Rio Ave e a Marina da Póvoa, numa extensão de, mais ou menos, 4 quilómetros.
Forte de S. João Baptista, mandado construir com o intuito de proteger a vila de possíveis ataques feitos por mar, está ligado a um episódio da nossa história nacional. Em 8 de Julho de 1832, D. Pedro IV tentou desembarcar no porto do Ave e para preparar o empreendimento, mandou a terra o Capitão de Engenharia Sá Cardoso (futuro Marquês de Sá da Bandeira) com a missão de conseguir a adesão do Brigadeiro Cardoso. A recusa persistente deste obrigou D. Pedro IV a desembarcar mais a sul, na praia de Arnosa de Pampelido, no Município de Matosinhos, história que já fiz referência aqui.
Memorial aos Náufragos – monumento, da autoria do Arquiteto Manuel Maia Gomes, pretende homenagear os pescadores que, na costa portuguesa e noutros países, perderam a vida no mar.
Adiante, junto à marina, inicia-se a ciclovia da Póvoa, com passagem pelo porto de pesca, as avenidas marginais até próximo da praça de touros.
A ciclovia está sinalizada com piso colorido vermelho e, amarelo nas zonas em que é partilhada.
Findo o percurso, já com o sol na sua caminhada descendente, inicio o regresso ao ponto de partida, desta feita quase sem paragens.
No entanto, novamente em Vila do Conde, avisto uma interessante torre sineira e sigo no seu encalce, no local, o encantamento, dá lugar à desilusão, uma vez que no átrio da igreja se encontrava estacionada uma carrinha de obras, o que tirava todo o encanto! De regresso à bicicleta, em forma de compensação divina, sou presenteado com esta bela imagem. Estas “donzelas” a posarem para a foto.
Um dia preenchido de coisas boas merece, no final, a uma paragem mais demorada para processar toda a informação recolhida… este que é o meu cenário de eleição foi o palco perfeito.
Até à próxima aventura, boas pedaladas.
mas que belo postal, dá para se ter a noção do que se perde quando vamos pela N13!
Sem dúvida Paulo. Para além do perigo que a N13 representa. Em meio quilómetro, uma buzina dela não está mal!
Passeio sensacional. Sua bicicleta é uma contra relógio? Fotos e descrição super boas. Boas vibrações do Brasil pra você.
Obrigado Mariel… abraço