Rumo ao norte, os quatro magníficos avançam para mais uma aventura por locais mágicos… a bordo da nave espacial, debaixo de chuva fresca procurando no vento a melhor orientação seguimos em direcção ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, classificado pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera.
O percurso a explorar localiza-se no concelho de Terras de Bouro, mais precisamente na freguesia de Vilar da Veiga, com inicio e términos junto ao parque de campismo do Vidoeiro.
Este trilho de aproximadamente 10 km, com um grau de dificuldade média a elevada, motivado pelo acentuado ascendente e descendente, sinalizado segundo as normas internacionais, leva-nos a percorrer uma área de rara e impressionante beleza paisagística e de grande valor ecológico e etnográfico, onde abunda uma grande variedade de fauna, corços, garranos, lobos, aves de rapina e de flora, pinheiros, teixos, castanheiros, carvalhos...
Logo no início do percurso um belo postal, uma pequena amostra da beleza do local… uma beleza ímpar capaz de incendiar a visão.
Iniciado o percurso não há que enganar, quatro “longos” quilómetros de subida, para fazer num ritmo de passeio, enquanto se equilibram os sentidos. Respiração e visão em rotação máxima, a subida e a magia do local não deixam que seja de outra forma.
O bosque encantado, árvores que se retorcem em busca de luz neste corredor arbóreo… onde o ar imaculado e fresco se consegue sentir na alma.
A chuva, embora menos intensa, continuava a cair como lâminas, rasgando a atmosfera, trespassando a folhagem onde perdendo a agressividade, atinge-nos de forma delicada, como que um beijo, terno, da mãe natureza nas suas crias.
A este nível, tudo é silêncio, apenas quebrado pelo constante correr do fechos que vão abrindo e fechando os agasalhos. A este nível, a visão fica ampla, levando a linha do horizonte para mais adiante. A este nível, o vento sopra forte, empurrando-nos caminho fora.
O PR3 – Trilho dos Currais proporciona um contacto directo com o espírito e tradições comunitárias locais, nomeadamente, a organização silvo-pastoril, denominada de vezeira. Revela-nos uma parte importante da serra do Gerês, diversas estruturas que são necessárias para este tipo de organização comunitária como são os Currais (o Curral da Espinheira, o Curral da Carvalha da Égua e o Curral da Lomba do Vidoeiro) e as respetivas cabanas, onde pernoitam os/as pastores/as, aguardando a sua vez de tomar a responsabilidade do pastoreio do gado – daí o nome de vezeira.
Serpenteando por este mar de contrastes seguimos viagem…
Aqui e ali a vegetação abre-se dando a descobrir a beleza e imponência do sítio… todo ele silêncio e calma…
Embora muito bem sinalizado, existe um ponto (este) que merece atenção redobrada pois o sinal ou “pórtico” sinalizador encontra-se “perdido” confundindo-se com a paisagem, no entanto, houve quem já tivesse tido o cuidado de construir, com pedras, uma seta sinalizadora, ao nível do chão.
Sem mais enganos prosseguimos viagem para o Miradoiro da Pedra Bela, visita obrigatória para quem percorre este trilho, ou mesmo, para qualquer visitante do Gerês.
Alcandorado sobre a montanha, no alto dos seus 834 metros, este balcão rochoso permite uma visão privilegiada, sobre as montanhas, a albufeira da Caniçada, a confluência do Rio Cávado com o rio Caldo, a vegetação ou a Portela do Homem…
A Pedra Bela desde sempre encantou, diziam os antepassados que foi a mão divina que ali a colocou!
Pedra Bela é também local de inspiração para poetas… já dizia Miguel Torga:
“Serra!
E qualquer coisa dentro de mim se acalma…
qualquer coisa profunda e dolorida,
traída,
Feita de terra
E alma.
Uma paz de falção na sua altura
A medir as fronteiras:
-Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bico a picar estrelas verdadeiras…”
Sob o manto fofo da folhagem fazemos a descida da Serra, com cuidados redobrados, pois as árvores estendem as suas raízes para se fixarem nesta vertente íngreme. Na base, na fonte, preparamos o bucho para receber o manjar do deuses.
O alcatrão indicia que o final do percurso está próximo, ladeados por muros vegetais e graníticos somos guiados para o último segmento encantado do percurso que corre paralelo à vila e desemboca em frente ao restaurante que nos haveria de acolher.
Com a alma cheia, chegamos ao final do percurso… era hora de alimentar o corpo e repor as energias perdidas.
Contamos com a sabedoria gastronómica da D. Júlia que preparou de forma superior o repasto, uns rojões à moda da terra, com tudo que faz bem!!!
Boas caminhadas… até à próxima aventura.
Ahhh, estou a ver, é mais um episódio da série, “Caminhada pelo parque, pisando folhas soltas, respirando o cheiro da Natureza e dos sabores da terra”. 😀
Mais uma vez grato pela partilha de tão fantásticas fotos.
Obrigado Paulo, mas perante tamanha beleza natural é quase impossível as fotos não serem bonitas… como diz o outro: assim, até com um tijolo.