Moinhos de Jancido e Lagoas de Midões

Saímos à descoberta de um pequeno paraíso em Jancido – Gondomar – e complementamos a caminhada com uma visita às lagoas de Midões.

Iniciamos a aventura no Parque de Lazer de Travassos, percurso de cerca 13 km, por caminhos rurais e florestais, com um grau de dificuldade fácil. Sendo que parte deste trilho não se encontra marcado com sinalética, por não fazer parte de qualquer rota, irei disponibilizar o ficheiro GPX do trajeto por nós escolhido – mapa e ficheiro aqui.

O Parque de Travassos é uma ótima opção para inicio e terminus do percurso pois permite estacionamento nas proximidades e pode ser um bom “spot” para no final retemperar as forças com um belo piquenique!

Aqui, onde os rios Ferreira e Sousa se abraçam, seguimos pela esquerda… efetuando o percurso no sentido dos ponteiros do relógio deixando a área dos Moinhos de Jancido, a cereja no topo do bolo, para o final da etapa.

Avançamos por uma ponte de pedra contígua à autoestrada, estrutura que nos irá acompanhar ao longo do caminho, com algumas passagens sob a mesma.
Daqui, seguimos por um caminho rural onde a vegetação forma uma espécie de túnel…

Ao longo deste corredor verde, ladeado por carvalhos, sobreiros e castanheiros, bem como, algumas espécies menos desejadas, onde o sol luta para fazer passar os seus raios através da folhagem, sentimos o ar fresco acalmar a pele que, até então, tinha estado exposta às temperaturas altas (im)próprias das horas após o almoço.
Nas copas das árvores, escondidos, os pássaros assinalam a sua presença com cantares mas sem nunca se mostrarem!!! Mais atrevido, um pequeno esquilo pára à nossa passagem… nós paramos também para o contemplar… depois de breves segundos prosseguiu o seu caminho em direção à copa da árvore e nós seguimos o nosso até Gens – primeiro aglomerado habitacional.
O rio Ferreira corre nas imediações num silêncio sepulcral, quase não damos conta da sua presença.

A passagem pelo local foi mesmo de raspão!!! Não chegamos a percorrer o interior da povoação pois ao alcançar as primeiras casas giramos ligeiramente à direita, por entre campos, onde iniciamos uma ligeira subida num percurso florestal onde impera a cultura do eucalipto.

Prosseguimos lentamente… e mais ainda quando nos deparamos com uma pequena “parede” que havia para ultrapassar logo após cruzarmos a estrada M615, felizmente não era muito extensa e foi a única elevação digna desse nome ao longo do trilho.
Recuperado o fôlego, aumentamos novamente a cadência da passada por entre as cortinas verdejantes.

Pelos quilómetros percorrido as lagoas não deveriam estar longe!
Numa curva do caminho onde o olhar tem de acompanhar os passos face à má qualidade do piso da pequena descida… eis que… ao tirar os olhos do chão somos presenteados com a bonita imagem que as Lagoas de Midões proporcionam.

O caminho separa estas duas lagoas e permite uma observação sobranceira sobre as mesmas. Depois dos registos da praxe prosseguimos em sentido descendente até próximo de Covelo., onde o rio Sousa vai serpenteando entre a paisagem….

… cruzámos novamente a EM615 e prosseguimos paralelos ao rio.
A partir daqui, o caminho que vínhamos a fazer entra no PR1 GDM – Moinhos de Jancido, percurso que está devidamente marcado em ambos os sentidos. O percurso é linear e tem cerca de 6 km (12Km ida e volta) de grau de dificuldade fácil.

O PR coincide com o traçado da antiga linha férrea por onde era transportado o carvão extraído das minas de Midões até à foz do Sousa – 1880 e 1932, passando pelas aldeias de Gens, Jancido, Compostela e Sousa, sendo depois levado de barco até ao Porto.

Adiante o caminho leva-nos até a uma ponte metálica que veio substituir a anterior por onde passava a linha férrea que entretanto ruiu. Esta nova passagem foi construída por um grupo de amigos que dedicam o seu tempo à preservação deste local, são os mesmos que trabalham na conservação do núcleo dos moinhos de Jancido e área envolvente que falarei de seguida.

Próximo do local onde ficam os moinhos a sinalética identifica o caminho a seguir… não há que enganar!

Os oito moinhos de Jancido, no lugar da Foz do Sousa, Gondomar, estavam cobertos de mato mas o tal grupo de amigos, desde 2017, vem dispondo do seu tempo para lhes dar nova vida, restaurando paredes e telhados, construindo escadarias, recriando o canal por onde seguia a linha férrea, limpando o mato envolvente, plantando mais de 500 árvores e arbustos…. uns verdadeiros benfeitores em propriedade alheia. Segundo li conseguiram a concordância dos proprietários para levar a efeito as obras de restauro e devolver à comunidade este belíssimo espaço de natureza.

Na zona de lazer alguns jovens desafiavam a gravidade em viagens vai-vem a bordo de um pneu e serviam-se do rio para a sua pista de aterragem.
Vistos os Moinhos de Jancido, a Cascata do Caiáguas prosseguimos caminho na direção da Ponte das Longras, mas antes fizemos paragem no Moinho do Garrido e na Mina para mais umas fotografias.

O caminho até à ponte é igualmente belo, feito de mãos dadas com o rio, iluminado tenuemente pelo sol que aos poucos se escondia atrás de um dos montes circundantes.

Daqui seguimos novamente ladeados de bonitas paisagens até próximo de uma ponte rodoviária onde fizemos o atravessamento para a margem oposta, próximo do local onde iniciamos o percurso.

Antes de terminar esta aventura passagem junto da antiga Central de Captação de Água da Foz do Sousa, imóvel classificado como de Interesse Publico, foi fonte de abastecimento de água do Porto durante cerca de cem anos.
Na sua origem esteve o decreto real de 1855 que aprovou o contrato com a Compagnie Générale des Eaux pour l’Étranger para a construção de obras de captação, elevação, transporte e distribuição ao domicílio das águas dos rios Sousa e Ferreira. Aquando da construção da estação elevatória de Lever foi desativada.

Terminamos agosto, a gosto!

Até breve… boas caminhadas.

9 opiniões sobre “Moinhos de Jancido e Lagoas de Midões

  1. Viva Miguel, não sendo um percurso extraordinariamente belo na sua globalidade tem recantos maravilhosos. Vale bem a pena… Como é próximo da zona onde resido irei voltar lá para o Outono para ver como fica o cenário pintado.

  2. conheço alguns destes locais e caminhos à custa da insistência de amigos bêtêtistas que insistem em me tirar do asfalto. Belo registo, relevante e informativo, pois muitos que por perto passam não fazem ideia destes tesouros escondidos.

  3. É verdade Paulo, passei algumas vezes, de bicicleta, pelo tapete macio desconhecendo o pequeno tesouro que se escondia na outra margem! É também um exemplo de espírito comunitário para que a memória não se apague… Há ali muito esforço e muitas horas de dedicação.
    Obrigado pelo teu comentário.

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